Em
tempo de quarentena, o ambiente virtual passou a ser algo que nós, com
facilidade, trazemos pra bem perto do coração e, se bobear, somos capazes de
colocar num tipo de altar ou algo do gênero.
Quando
tento imaginar como seria a quarentena sem o acesso à internet, confesso me sentir
desconfortável. Abstinência do mundo virtual, somada às demais privações
impostas por essa quarentena, formam um cenário pouco desejado, você não acha?
Nesse
tempo de isolamento social, devo admitir que o mundo virtual tem sido um fiel
fornecedor de alento e interação: acompanhar um seriado, assistir
filmes, realizar videoconferências, participar de grupos no wapp, ouvir
palestras, fazer novos cursos, acompanhar o culto online da minha comunidade,
participar de salas de oração com os irmãos, dentre tantas outras
possibilidades. Que privilégio! Quando
paro pra pensar que no Brasil, praticamente, um quarto da população não possui
acesso à internet, me sinto extremamente grata.
Dividirei
o Post em duas partes para não ficar cansativo. Tentarei fazer um
recorte minúsculo sobre o tema “mundo virtual e vulnerabilidades” compartilhando
com vocês uma experiência pessoal que vivenciei em dois grupos do wapp de mulheres
dos quais faço parte.
Gosto
muito da experiência de interagir virtualmente com outras mulheres. Além disso,
talvez por estar aposentada e ter uma agenda livre, acabo me envolvendo
prazerosamente. Na quarentena isso se intensificou, reconheço.
Um
desses grupos nasceu no coração algumas mulheres de Deus, motivadas pelo isolamento social do momento. A
criação do grupo foi algo mágico e sobrenatural. Acompanhei as etapas de sua
formação nos bastidores e posso afirmar que foi algo divino e
sobrenatural! Em poucos dias, um grupo de poucas mulheres
virou um grupo de dez, que virou um grupo de vinte, que virou um grupo de
quarenta e que hoje se transformou em uma verdadeira rede de mulheres conectadas.
Foi curioso
que, nos primeiros dias de formação desse grupo, me foi solicitado sugerir
alguns temas de interesse das mulheres para podermos trazer palestrantes e
pessoas que pudessem dirigir a reflexão. A lista de temas incluía assuntos
voltados para oração, emoções, cuidados pessoais, alimentação, criação de
filhos, dentre outros. O grupo teve suas atividades iniciadas da melhor forma
possível, com uma adesão incrível de mulheres de todas as idades. Estava
formado mais um espaço de convivência virtual para exercício de amor e fé!
Em
meio a toda excitação de ver esse grupo nascendo, com o coração exultante, me
peguei refém de certas vulnerabilidades inerentes ao ambiente virtual mas que,
infelizmente, conseguiram fazer um contraponto de emoções dentro em mim.
Momentaneamente, um sentimento de excitação recebeu pinceladas de decepção e melancolia.
Decepção comigo mesma por não “vigiar” e, melancolia, por perceber que tais
vulnerabilidades tendem a se repetir, não só no mundo virtual. Algumas delas
serão aqui compartilhadas no intuito de incluir vocês nessa minha jornada
quarentenal.
A
primeira vulnerabilidade que quero mencionar, costuma evidenciar-se,
principalmente, quando participo de videoconferências. Se for uma
videoconferência só com mulheres, num grupo acima de três pessoas, essa
vulnerabilidade aparece rapidinho: saber me comunicar verbalmente.
Pensei que teria mais facilidade com a comunicação no ambiente virtual, todavia, senti certa dificuldade nesses primeiros encontros. Por falta de treino ou ansiedade acumulada, nem sempre acerto sobre o que falar, em que momento e de
que forma. Tendo a falar muito, atropelar falas, não ler as intenções do
outro facilmente e por aí vai. O curioso é que essa mesma vulnerabilidade se
transforma em diversão quando a videoconferência é com o grupo de wapp das mulheres da
minha família, por exemplo. Como somos todas treinadas à moda italiana de falar ao mesmo tempo e
se fazer entender, acaba sendo algo divertido! Desde a prima mais caladinha até a tia rouca, todas nós nos comunicamos de forma alegre e eficaz. Porém para quem vê de fora, a impressão que fica é de que ninguém se entende. Só que não! Por incrível que pareça, a comunicação flui.
Então, retomando a questão da vulnerabilidade da
comunicação no ambiente virtual e, trazendo para a minha realidade, percebo que
a vulnerabilidade não está na videoconferência ou no grupo. Certamente que não.
Afinal, se eu comparar as videoconferências do grupo de mulheres da igreja, do
grupo de mulheres da pós-graduação e do grupo de mulheres da família, perceberei
que ambas são videoconferências, ambas possuem mais de três participantes e
ambas são só com mulheres. Então, por que considerar a comunicação uma
vulnerabilidade? Simplesmente pelo fato de que em cada uma delas me vejo agindo,
sentindo e reagindo de formas
diferenciadas. Deve ser assim com todo mundo, porém, trazendo para minha realidade,
percebo que se eu não estiver atenta aos eventuais ruídos na comunicação de uma
forma mais consciente e menos emocional, perderei a oportunidade de
transforma-los em aprendizado e crescimento.
A
segunda vulnerabilidade que gostaria de compartilhar com vocês, refere-se ao
“timing” em responder mensagens no wapp e retornar ligações. Basta uma demora
em responder a alguém e, sem querer, esse atraso pode ganhar conotações as mais
diversas para quem está aguardando uma resposta. Eu costumava reclamar desse aspecto com
outras pessoas, achando que era desinteresse ou falta de consideração, porém, recentemente, para minha tristeza, me vi fazendo a mesma coisa e não gostei do que senti. Atrasei o retorno de uma ligação e isso gerou certo desconforto que poderia ter sido evitado. Por sorte, a pessoa é bem resolvida e muito querida, portanto, resolvemos o assunto com boas risadas. Mas, gostaria de salientar que a questão do “timing” no mundo virtual é bem mais complexa do que se imagina. Atrasos
em responder uma mensagem de texto, em curtir alguma postagem, em abrir um
email, dentre tantas outras tantas ações dessa natureza, podem facilmente ser
motivo de indisposições. Precisamos ter cuidado quanto a isso, pensando nos
dois lados da história, claro.
A
terceira vulnerabilidade que quero mencionar, diz respeito a encadeamento e
argumentação de ideias nos grupos de wapp. Em boa parte dos grupos de wapp dos
quais participo, é comum as pessoas expressarem suas opiniões com liberdade e
despretensiosamente: alguém digita algo, os outros leem, respondem ou
não. Quando o tema é irrelevante, como por exemplo, aderir ou não às unhas
em gel, as opiniões diferem e fica por isso mesmo. Todavia, quando é
lançada uma discussão importante no grupo como, por exemplo, criação de filhos,
políticas públicas, pandemia, dentre outros, sinto dificuldade nesse processo.
A impressão que tenho é de que temas são lançados e ficam sempre em aberto.
Normalmente, leio a maior parte do que foi digitado e tento criar um certo
encadeamento visando a uma conclusão sobre o assunto levantado, porém, em
grupos maiores de wapp, nem sempre isso é possível. Aliás, quase nunca. Vale
ressaltar que isso acontece nos grupos mistos dos quais participo, ou seja,
extrapola o universo feminino. Inicio um processo de encadeamento mental mínimo,
lendo o que foi digitado e digitando minha opinião a respeito. Sigo lendo mais
um pouco das demais opiniões sobre o tema e, de repente, do nada, surge uma
foto bem no meio dos textos ou uma
música, ou ainda, um novo tema é lançado. Socorro! Lá se vai meu raciocínio. Definitivamente,
preciso parar com essa mania de ser caçadora de conclusões temáticas em grupos
de wapp. Fico até na dúvida se devo classificar esse processo como
vulnerabilidade ou, simplesmente, como modus operandi dos grupos de
wapp. Todavia, resolvi optar pela primeira opção pelo seguinte motivo: quando
você entra na discussão do tema proposto no grupo, posta alguma coisa, mas, seja
por preguiça de digitar muito, seja pela quebra no “timing” da discussão, seja
pelo motivo que for, sua opinião é lançada de forma incompleta e isso pode
ganhar conotações as mais diversas por parte dos interlocutores virtuais. Você já passou
por isso? Dá até preguiça, não? Mas há que se ter cuidado.
Por
fim, não só no ambiente virtual, minha maior vulnerabilidade: guardar o
coração. Um dos temas abordados em um desses grupos de wapp dos quais faço parte, foi:
ídolos do coração. Pois bem, Deus me fez
perceber que altares se formam nos corações de todas nós, o tempo todo, com
certa facilidade. O mundo virtual, com seus grupos de wapp, videoconferências, lives
e tudo mais, curiosamente, transforma-se rapidamente numa vitrine de alguns dos altares e dos ídolos que
carregamos em nosso coração.
Essa
semana, de uma forma toda especial, Deus me mostrou ídolos que ainda precisam ser quebrados no
meu coração e quebrou comigo (e por mim) alguns deles. Oro a Deus para que algo
sublime não se perca tão rapidamente por limitações e vulnerabilidades trazidas
pelo mundo virtual. Oro para que o mundo virtual seja canal de bênção para
todas nós, em especial, nessa quarentena.
(Texto de 29/04/2020)