Caras leitoras, encerramos
hoje a entrevista com o Professor Dr. Martin Selligman, sobre Psicologia
Positiva. Espero que vocês tenham gostado do tema e possam colocar em prática
alguns conselhos e recomendações desse autor. Prometo voltar a esse tema instigante
num futuro próximo, pois ainda tenho muito que aprender nessa área.
Entrevista – Parte III:
Veja –
As mulheres sofrem duas vezes mais de depressão que os homens. Elas são mais
infelizes que eles?
Seligman –
As mulheres são mais deprimidas, mas, curiosamente, também experimentam mais
emoções positivas que os homens. Talvez isso se deva em parte à biologia e em
parte à disposição feminina de falar mais abertamente de suas emoções – o que
pode ser considerado um dado cultural.
Veja –
Os velhos tendem a ser mais infelizes?
Seligman –
Até a década de 60, acreditava-se que a felicidade estava associada à juventude
e também a um bom nível de instrução. Essa idéia foi negada pela experiência.
Velhos que tiveram uma boa vida dificilmente encontram motivos para ser
infelizes – e pessoas menos cultas podem achar a felicidade dentro de suas
possibilidades. Como digo no meu livro, embora o nível de instrução seja um dos
melhores meios para aumentar os rendimentos, ele não é necessariamente causa de
aumento da felicidade. A inteligência também não influencia a felicidade, seja
para mais, seja para menos.
Veja – E
os religiosos?
Seligman –
Quem pratica uma religião é claramente menos predisposto a usar drogas, a se
divorciar e a cometer crimes e suicídio. Costuma ser também mais saudável e
viver mais. A relação direta entre fé religiosa e esperança no futuro acaba por
afugentar o desespero e aumentar a felicidade. Mas essa não é, evidentemente,
uma receita para todo mundo.
Veja – O
número maior de deprimidos no mundo não seria proporcional ao aumento do número
de pessoas que buscam uma felicidade que simplesmente não existe?
Seligman – A
depressão é dez vezes mais freqüente hoje do que era em 1960. Ela também ataca
cada vez mais cedo. Acredito que o que aconteceu foi um excesso de confiança
nos atalhos que prometem a felicidade imediata: drogas, consumismo e sexo
casual, entre outros exemplos. Tudo isso é fruto do narcisismo. E o narcisismo
pode levar à depressão. Preocupar-se demais consigo próprio só faz intensificar
tendências depressivas. Os profissionais da auto-ajuda vivem apregoando que
todo mundo deve "entrar em contato com seus sentimentos". Ora, há
limite para isso. Talvez fôssemos mais felizes se nos preocupássemos mais com o
outro.
Veja –
Hoje em dia, até mesmo pela eficácia dos tratamentos dos transtornos mentais,
não existiria uma espécie de obrigação social de ser feliz?
Seligman – A
felicidade não deve ser vista como uma meta obrigatória, embora seja natural
querer ser feliz. O fato de haver tratamentos mais eficazes contribui para o
alívio de certos tipos de infelicidade, mas eles não são garantia de que o
mundo será um mar de rosas. Muito da felicidade que encontramos na vida é
efeito colateral daquilo que fazemos. Por exemplo, diversos casais me procuram
porque querem restabelecer a intimidade com seus parceiros. Essa intimidade,
contudo, não se consegue por meio de remédios ou algo que o valha. Ela é
conseqüência de uma mudança de atitude. Um casal feliz faz coisas positivas
junto, de maneira espontânea, sem se preocupar se aquilo será motivo de
felicidade ou não.
Veja – É
possível ensinar alguém a ser feliz?
Seligman – É
justamente esse o objetivo do meu trabalho: ensinar as pessoas a ser felizes e
como intensificar essa felicidade. A mais agradável das tarefas de um pai – e
eu diria que é até a principal – é desenvolver os traços positivos em seus
filhos, em vez de apenas tentar apagar os negativos. É isso que garante às
crianças os recursos para que se tornem adultos produtivos, equilibrados e
satisfeitos. Felizes, enfim.