Caras leitoras, espero
sinceramente que estejam gostando desse assunto, pois, na minha opinião, falar de Felicidade não é tarefa fácil e temos muito que aprender a cada dia.
Vamos dar continuidade à entrevista com o
Dr. Martin Seligman, desejando que aproveitem bastante seus conselhos e possam colocar em prática alguns deles.
Entrevista – Parte II:
Veja –
Há pessoas que costumam dizer "eu não sou feliz, eu estou feliz".
Isso faz sentido?
Seligman –
Esse é o tipo de consideração que vale para quem pauta a vida pela quantidade
de prazer imediato que consegue ter. É uma vida baseada exclusivamente no humor
– e o humor tem altos e baixos. Uma felicidade mais plena sobrevive a esse tipo
de montanha-russa.
Veja – É
inegável, contudo, que existe a felicidade momentânea.
Seligman –
Sim, e ela pode ser aumentada por meio de artifícios como um chocolate, um bom
filme, uma roupa nova, flores ou uma boa massagem. Mas não é preciso ser um
estudioso do assunto para verificar que coisas boas e realizações importantes
incrementam a felicidade apenas temporariamente. Acredita-se que em menos de
três meses eventos importantes como uma promoção perdem o impacto. O grande
desafio é manter o nível constante de felicidade. A psicologia tenta
estabelecer se cada um de nós tem um limite próprio para a felicidade – um
limite herdado geneticamente e para o qual invariavelmente voltamos, por obra
de um termostato interno. Você me perguntou sobre a relação entre felicidade e
dinheiro. Pois bem, um estudo feito com ganhadores de gordos prêmios de loteria
revelou que, passada a euforia causada pela entrada de uma grande soma de
dólares, todos retornaram a seu nível básico de felicidade. A boa notícia é que
mesmo depois de um evento muito triste esse termostato também nos tira da
infelicidade e nos leva de volta ao patamar anterior.
Veja –
Muitas pessoas têm tudo para ser felizes e não o são. Como explicar isso?
Seligman –
Depois de acumular bens materiais e realizações, muitos tendem a esquecer que
tudo aquilo foi fruto de conquistas nem sempre fáceis. Passam a encarar o
status e o conforto que alcançaram como se fosse um dado da natureza, por assim
dizer. Com isso, começam a ficar insatisfeitos e a querer sempre mais. É claro
que tal atitude causa frustração. Por esse motivo, lidar com a felicidade pode
ser tão difícil quanto enfrentar a infelicidade.
Veja –
Alguém que teve uma infância marcada por acontecimentos muito infelizes pode se
tornar um adulto feliz?
Seligman –
Para Sigmund Freud, o pai da psicanálise, a infância determina a personalidade
adulta. Na minha opinião, há uma certa dose de exagero nessa visão.
Superestima-se o passado. Não há evidências suficientes de que acontecimentos
traumáticos experimentados pela criança, como a separação dos pais ou a morte
de parentes próximos, interfiram sempre a ponto de comprometer suas
potencialidades. Acho que, se você se vê forçado pelo passado a trilhar o
caminho rumo à infelicidade, tem todo o direito de esquecê-lo, sem que se sinta
obrigado a ficar revolvendo ocorrências longínquas no tempo e no espaço.
Veja – Os
mais bonitos são mais felizes?
Seligman – A
beleza física certamente traz vantagens adicionais. Mas o fato é que a boa
aparência exerce um efeito muito pequeno sobre a felicidade. Marilyn Monroe,
para ficar num exemplo óbvio, era bela e profundamente infeliz.
Veja –
Quais são os ingredientes de um relacionamento feliz?
Seligman –
Não existe uma receita propriamente dita. Em meus estudos, descobri coisas
inusitadas sobre os relacionamentos. Um dos exercícios que costumo aplicar é
separar um casal e fazer com que cada um dê sua opinião sobre o outro. Depois,
os resultados são comparados com a avaliação de pessoas próximas, como parentes
e amigos. Quanto maior a discrepância da opinião do parceiro amoroso em relação
à imagem social e familiar do outro, maior é a ilusão que existe entre eles. E,
quanto maior essa ilusão, mais feliz e estável é o relacionamento. Homens e
mulheres casados e satisfeitos vêem virtudes nos seus cônjuges que nem os
amigos mais próximos conseguem enxergar. Hoje, muitos terapeutas de casais se
dedicam a fazer com que casamentos marcados por brigas se transformem em uniões
toleráveis. Eu prefiro transformar bons casamentos em uniões excelentes.
Veja –
Os casados são mais felizes que os solteiros?
Seligman –
Sim, o casamento está intimamente ligado à felicidade. Uma pesquisa nos Estados
Unidos ouviu 35.000 pessoas nos últimos trinta anos. Dessas, 40% das casadas se
disseram muito felizes, contra apenas 24% das solteiras, viúvas e separadas. A
vantagem para os casados parece estar ligada ao fato de que eles se sentem mais
amparados. Existem, no entanto, duas outras explicações para essa diferença de
porcentagem, que antecedem o casamento em si: as pessoas felizes são mais predispostas
a se casar e a manter o relacionamento. Os deprimidos tendem a ser mais
retraídos, irritáveis e voltados para si, o que os torna menos interessantes.