Caras leitoras, interessei-me
nesses últimos três anos por uma área
riquíssima, porém, pouco difundida entre leigos: a Psicologia Positiva.
Essa área tenta estimular o
lado positivo da vida e a busca pela felicidade. Seu precursor, o autor
americano, professor e pesquisador Martin Seligman, conhecido como “O Doutor
Felicidade“ foi entrevistado pela revista Veja
quando esteve no Brasil e fez um breve resumo de suas idéias, apontando alguns
caminhos para se alcançar o mundo das pessoas felizes.
Pretendo dividir essa
entrevista em três partes e compartilha-la com vocês nos próximos Posts. Tenho
certeza de que também vão se apaixonar por essa área da Psicologia.
Introdução:
A influência das emoções
sobre a saúde intriga os médicos desde a Antiguidade. A maior parte dos
tratados e pesquisas investiga os efeitos deletérios dos sentimentos negativos,
como a tristeza, a angústia e a raiva. Há cerca de vinte anos, no entanto,
psicólogos e psiquiatras inauguraram uma nova corrente, a "psicologia positiva",
que visa a determinar o peso das emoções boas no equilíbrio físico e mental.
Um
dos principais representantes desse movimento é o psicólogo Martin Seligman, de
61 anos, professor da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Seligman,
que por quase trinta anos lidou com pacientes deprimidos, resolveu inverter o
curso de seus estudos. Em vez de se dedicar a entender as fraquezas humanas,
ele buscou respostas para compreender quais são as raízes da felicidade.
"Sabia-se muito a respeito da depressão, mas quase nada sobre a essência
comum das pessoas felizes", diz. Seus críticos argumentam que os termos da
psicologia positiva são muito vagos e superficiais. Pode ser. Mas o fato é que,
com suas idéias, Martin Seligman, ex-presidente da Associação Americana de
Psicologia, tornou-se um autor best-seller.
Em seu novo livro, Felicidade
Autêntica (Editora Objetiva), recém-lançado no Brasil, ele propõe que a
conquista da felicidade seja um exercício diário, feito com gentileza,
originalidade, humor, otimismo e generosidade.
Entrevista – Parte I:
Veja – É
possível medir o grau de felicidade de uma pessoa?
Seligman –
Sim, se estivermos falando de prazeres como sexo, chocolate e compras. Nesses
casos, cada um sabe o que o faz mais feliz. Mas já fica mais difícil medir o
grau da felicidade existencial, por assim dizer. O que dá para perceber é que
há características comuns às pessoas que consideramos felizes. Elas são, por
exemplo, mais queridas pelos outros. Também tendem a ser mais tolerantes e
criativas. As pessoas felizes têm em comum, ainda, hábitos de vida mais
saudáveis, pressão arterial mais baixa e sistema imunológico mais ativo que as
infelizes.
Veja –
Por que o senhor resolveu enfocar a felicidade, e não a infelicidade, como
fazem quase todos os psicólogos?
Seligman – A
psicologia convencional nasceu para tentar entender o que torna alguém
neurótico, deprimido, ansioso, de mal com o mundo. Durante mais de duas décadas
dediquei-me a esse tipo de estudo. Mas, depois de anos nessa toada, achei
melhor procurar compreender o que faz alguém feliz. Inclusive para indicar
alguns caminhos para os infelizes. Descobri que homens e mulheres satisfeitos
têm uma vida social mais rica e produtiva. Os muito felizes passam o mínimo de
tempo sozinhos e mantêm ótimos relacionamentos. Cultivam mais as amizades e permanecem
casados por mais tempo.
Veja –
Os mais felizes vivem mais?
Seligman – O
estudo mais notável feito até hoje sobre felicidade e longevidade analisou o
cotidiano de 180 freiras. Todas tinham a mesma dieta, leve e balanceada, e
estavam livres, é claro, de drogas, álcool e cigarro. Como também convém a
freiras, elas não eram suscetíveis a doenças sexualmente transmissíveis. Pois
bem, mesmo assim, foi constatada uma diferença sensível de longevidade entre as
mais e as menos alegres. Entre as primeiras, 90% ultrapassaram os 80 anos. Do
outro grupo, apenas 34% chegaram a essa idade.
Veja –
Dinheiro traz felicidade?
Seligman – É
evidente que uma situação financeira confortável ajuda. Mas é um erro pensar
que, quanto mais dinheiro, mais satisfação. Especialmente se, para consegui-lo,
se sacrificam outros aspectos. Trabalhar seis fins de semana seguidos para
conseguir um salário maior, à custa de menos lazer e menos tempo com os filhos,
não faz ninguém mais feliz. Uma pesquisa baseada na lista elaborada pela
revista Forbes das 400 pessoas mais ricas dos Estados Unidos constatou que, na
média, elas não são mais felizes que as de classe média. A riqueza tem uma
correlação surpreendentemente baixa com o nível de felicidade. Os ricos são, em
geral, só um pouco mais felizes que os pobres. Nos Estados Unidos, enquanto a
renda aumentou 16% nos últimos trinta anos, o número de indivíduos que se
consideram muito felizes caiu de 36% para 29%.
Veja –
Mas existem estudos que associam a felicidade ao poder de compra.
Seligman – É
verdade que países muito pobres, como Bangladesh, por exemplo, têm, na média,
menos pessoas felizes que países como os Estados Unidos. Uma pesquisa realizada
recentemente abordou um universo de mais de 1 000 pessoas em quarenta países.
Os responsáveis cruzaram o nível de satisfação pessoal com o poder de compra
correspondente a cada lugar. O resultado trouxe obviedades e surpresas. Numa
escala de 10 pontos, a nação de pessoas mais felizes e satisfeitas é a Suíça.
Os Estados Unidos estão em sexto lugar. Já o Brasil aparece num surpreendente
décimo lugar, à frente da Itália, um país rico, onde as pessoas têm um poder de
compra quase quatro vezes maior. Isso significa que os brasileiros têm
particularidades que contrariam a crença de que felicidade está necessariamente
associada a mais dinheiro.