Como minha mãe trabalhava fora o dia todo, sempre que
possível, ela nos deixava passar a tarde na casa da vovó. Minha vó era uma
viúva de poucas posses, cristã e que tinha o dom da multiplicação. Sim, ela era
incrível! Se chegasse alguma visita inesperada para almoçar, rapidamente, com a
ajuda de um martelo de carne e uma faca, dois bifes viravam seis bem depressa. Com
o envelope de sopa Knorr, era a mesma coisa: acrescentava água, um pouco de
leite, uma colher de Maizena e… Voilà! Sopa para abastecer um batalhão! Transformar
o pouco em muito, era com ela mesma. Cresci vendo esses milagres e aprendi
muito com minha vó.
No bairro em que minha vó morava, por ser um bairro de
casas geminadas, sem muros, era
comum aparecerem pedintes batendo na porta da casa dela. Quando
algum deles tocava a campainha, vovó, educadamente, pedia para aguardar um
minutinho. Ela corria pra cozinha e, rapidamente, preparava um prato de comida
bem farto. Colocava um pouco de tudo que havia sobre o fogão, enchia também um
copo de leite e voltava para entregar à pessoa que a estava aguardando. Jamais vi
minha vó despedir alguém de mãos vazias. Isso ficou marcado na minha memória. A maioria deles comia, agradecia e ia embora.
Porém, nem todos agiam dessa forma. Lembro que, para tristeza de minha vó, alguns
desses pedintes despejavam a comida no chão e saíam murmurando. Parecia ser
alguma forma de protesto por não haverem recebido dinheiro e sim, comida.
Recentemente lembrei-me dessas cenas na casa da minha
vó e pude perceber que as pessoas seguem agindo dessa maneira quando recebem “o
pão”. Algumas são gratas e outras não. Algumas recebem com alegria o que você reparte, outras não. Algumas comem o alimento repartido, outras o descartam. As reações das pessoas são bem distintas e me levaram a parar um pouco para refletir. A sensação de aplacar a fome de alguém é extremamente prazerosa, contudo, nem sempre é possível.
Atribuindo a palavras e ensinamentos o significado de “pão”, percebi que nos nossos relacionamentos, tal qual acontece com um prato de comida, as pessoas recebem de nós o “pão” de bom grado e outras, diferentemente, desprezam o alimento oferecido. Observei esse tipo de comportamento com pessoas em grupos de wapp, pessoas mais próximas e pessoas com as quais tenho pouco contato. Recordei-me, então, da passagem bíblica em que Jesus, numa alusão escatológica, nos adverte: ”…porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber...”
Atribuindo a palavras e ensinamentos o significado de “pão”, percebi que nos nossos relacionamentos, tal qual acontece com um prato de comida, as pessoas recebem de nós o “pão” de bom grado e outras, diferentemente, desprezam o alimento oferecido. Observei esse tipo de comportamento com pessoas em grupos de wapp, pessoas mais próximas e pessoas com as quais tenho pouco contato. Recordei-me, então, da passagem bíblica em que Jesus, numa alusão escatológica, nos adverte: ”…porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber...”
Sei que Jesus estava explicando sobre algo futuro,
mas, na hora em que reli esse texto, uma compreensão clara do que eu
estava sentindo em meu coração sobre as reações das pessoas, invadiu minha mente e pude perceber que existe uma pré-condição ao ato de dar o “pão” quando se trata de repartir palavras ou ensinamentos. Parte do desconforto que
eu estava sentindo extrapolava a emoção da não-reciprocidade e associava-se a, pelo menos, três fatores que se repetem e merecem nossa atenção.
O primeiro deles repousa no fato de dar “pão” a quem
não está com fome. Ou seja, ao querer repartir o “pão” com alguém que está suficientemente saciado, significa desperdiçar alimento. Talvez em
outro momento esse “pão” até seja bem-vindo, mas, não naquele momento em que a
pessoa não está com fome.
O segundo fator assemelha-se ao que aquele pedinte fez
na frente da casa da minha vó: jogou no chão o prato de comida que recebeu. Ou seja, dar
“pão” a alguém que está com fome, porém, não uma fome do tipo de alimento que tenho para oferecer. A fome dessa pessoa poderia ser de tudo, menos de
palavras ou ensinamentos, por exemplo.
O terceiro fator não possui uma correlação direta com essa passagem bíblica. Refere-se a ação de dar "pão" a alguém que até pode estar faminto, porém, não me pediu.
Estamos cercadas por pessoas famintas de todo tipo de
“pão” e é nosso dever reparti-lo. Contudo, quando se trata de repartir palavras
ou ensinamentos, sugiro observarmos esses três fatores: (1) dar pão a quem tem fome; (2) o pão que a pessoa necessita, nem
sempre é o que você possui; (3) saber com quem repartir o pão e o melhor
momento de fazê-lo.
Por mais altruísta que possa parecer, o ato de
repartir o pão requer alguns cuidados de nossa parte. Quer seja o pão material
quer seja o “pão” representado por palavras e ensinamentos, devemos reparti-lo
com a mente e o coração envolvidos no processo.
Por falar nisso... você tem fome de quê?