domingo, 17 de maio de 2020

Porque tive fome e destes-me de comer







Como minha mãe trabalhava fora o dia todo, sempre que possível, ela nos deixava passar a tarde na casa da vovó. Minha vó era uma viúva de poucas posses, cristã e que tinha o dom da multiplicação. Sim, ela era incrível! Se chegasse alguma visita inesperada para almoçar, rapidamente, com a ajuda de um martelo de carne e uma faca, dois bifes viravam seis bem depressa. Com o envelope de sopa Knorr, era a mesma coisa: acrescentava água, um pouco de leite, uma colher de Maizena e… Voilà! Sopa para abastecer um batalhão! Transformar o pouco em muito, era com ela mesma. Cresci vendo esses milagres e aprendi muito com minha vó.

No bairro em que minha vó morava, por ser um bairro de casas geminadas, sem muros, era  comum aparecerem pedintes batendo na porta da casa dela. Quando algum deles tocava a campainha, vovó, educadamente, pedia para aguardar um minutinho. Ela corria pra cozinha e, rapidamente, preparava um prato de comida bem farto. Colocava um pouco de tudo que havia sobre o fogão, enchia também um copo de leite e voltava para entregar à pessoa que a estava aguardando. Jamais vi minha vó despedir alguém de mãos vazias. Isso ficou marcado na minha memória.  A maioria deles comia, agradecia e ia embora. Porém, nem todos agiam dessa forma. Lembro que, para tristeza de minha vó, alguns desses pedintes despejavam a comida no chão e saíam murmurando. Parecia ser alguma forma de protesto por não haverem recebido dinheiro e sim, comida.  

Recentemente lembrei-me dessas cenas na casa da minha vó e pude perceber que as pessoas seguem agindo dessa maneira quando recebem “o pão”. Algumas são gratas e outras não. Algumas recebem com alegria o que você reparte, outras não. Algumas comem o alimento repartido, outras o descartam. As reações das pessoas são bem distintas e me levaram a parar um pouco para refletir. A sensação de aplacar a fome de alguém é extremamente prazerosa, contudo, nem sempre é possível. 

Atribuindo a palavras e ensinamentos o significado de “pão”, percebi que nos nossos relacionamentos, tal qual acontece com um prato de comida, as pessoas recebem de nós o “pão” de bom grado e outras, diferentemente, desprezam o alimento oferecido. Observei esse tipo de comportamento com pessoas em grupos de wapp, pessoas mais próximas e pessoas com as quais tenho pouco contato.  Recordei-me, então, da passagem bíblica em que Jesus, numa alusão escatológica, nos adverte: …porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber...”

Sei que Jesus estava explicando sobre algo futuro, mas, na hora em que reli esse texto, uma compreensão clara do que eu estava sentindo em meu coração sobre as reações das pessoas, invadiu minha mente e pude perceber que existe uma pré-condição ao ato de dar o “pão” quando se trata de repartir palavras ou ensinamentos. Parte do desconforto que eu estava sentindo extrapolava a emoção da não-reciprocidade e associava-se a, pelo menos, três fatores que se repetem e merecem nossa atenção.

O primeiro deles repousa no fato de dar “pão” a quem não está com fome. Ou seja, ao querer repartir o “pão” com alguém que está suficientemente saciado, significa desperdiçar alimento. Talvez em outro momento esse “pão” até seja bem-vindo, mas, não naquele momento em que a pessoa não está com fome.

O segundo fator assemelha-se ao que aquele pedinte fez na frente da casa da minha vó: jogou no chão o prato de comida que recebeu. Ou seja, dar “pão” a alguém que está com fome, porém, não uma fome do tipo de alimento que tenho para oferecer. A fome dessa pessoa poderia ser de tudo, menos de palavras ou ensinamentos, por exemplo.   

O terceiro fator não possui uma correlação direta com essa passagem bíblica. Refere-se a ação de dar "pão"  a alguém que até pode estar faminto, porém, não me pediu. 

Estamos cercadas por pessoas famintas de todo tipo de “pão” e é nosso dever reparti-lo. Contudo, quando se trata de repartir palavras ou ensinamentos, sugiro observarmos esses três fatores: (1) dar pão a quem tem fome; (2) o pão que a pessoa necessita, nem sempre é o que você possui; (3) saber com quem repartir o pão e o melhor momento de fazê-lo.

Por mais altruísta que possa parecer, o ato de repartir o pão requer alguns cuidados de nossa parte. Quer seja o pão material quer seja o “pão” representado por palavras e ensinamentos, devemos reparti-lo com a mente e o coração envolvidos no processo.

Por falar nisso... você tem fome de quê?

Dica de Leitura








Título: Foco

Autor: Daniel Goleman & Cássia Zanon

Editora: Objetiva

Sinopse: Você está prestando atenção? Ou já se distraiu checando seus e-mails, mensagens, Facebook, Twitter? Resistiu ao impulso de deixar sua mente divagar? Se tiver resistido, muito bem: normalmente uma pessoa fica distraída por mais de 40% do tempo quando lê um texto. Mas quais são os benefícios de ficar focado por um longo período? Uma palavra: sucesso. Segundo Daniel Goleman, autor do best-seller Inteligência emocional, a atenção funciona de forma muito parecida com um músculo: se não o utilizamos, fica atrofiado; se o exercitamos, se desenvolve e se fortalece. Numa era de distrações intermináveis, Goleman argumenta que precisamos aprender a aprimorar nosso foco se quisermos prosperar no mundo complexo em que vivemos. Aqueles que alcançam rendimento máximo (seja nos estudos, nos negócios, nos esportes ou nas artes) são precisamente os que prestam atenção no que é mais importante para seu desempenho. Foco é uma ferramenta essencial, é o que diferencia um especialista de um amador, um profissional de sucesso do funcionário mediano. Foco traz um olhar inovador sobre o segredo para o alto desempenho e mostra como a atenção tem um papel fundamental para o sucesso.

Versículo do Dia








“E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal.”
(Joel 2:13)