terça-feira, 12 de maio de 2020

Vulnerabilidades e o mundo virtual












Em tempo de quarentena, o ambiente virtual passou a ser algo que nós, com facilidade, trazemos pra bem perto do coração e, se bobear, somos capazes de colocar num tipo de altar ou algo do gênero.
Quando tento imaginar como seria a quarentena sem  o acesso à internet, confesso me sentir desconfortável. Abstinência do mundo virtual, somada às demais privações impostas por essa quarentena, formam um cenário pouco desejado, você não acha?
Nesse tempo de isolamento social, devo admitir que o mundo virtual tem sido um fiel fornecedor de alento e interação: acompanhar um seriado, assistir filmes, realizar videoconferências, participar de grupos no wapp, ouvir palestras, fazer novos cursos, acompanhar o culto online da minha comunidade, participar de salas de oração com os irmãos, dentre tantas outras possibilidades. Que privilégio!  Quando paro pra pensar que no Brasil, praticamente, um quarto da população não possui acesso à internet, me sinto extremamente grata.
Dividirei o Post em duas partes para não ficar cansativo. Tentarei fazer um recorte minúsculo sobre o tema “mundo virtual e vulnerabilidades” compartilhando com vocês uma experiência pessoal que vivenciei em dois grupos do wapp de mulheres dos quais faço parte.
Gosto muito da experiência de interagir virtualmente com outras mulheres. Além disso, talvez por estar aposentada e ter uma agenda livre, acabo me envolvendo prazerosamente. Na quarentena isso se intensificou, reconheço.
Um desses grupos nasceu no coração algumas mulheres de Deus, motivadas pelo isolamento social do momento. A criação do grupo foi algo mágico e sobrenatural. Acompanhei as etapas de sua formação nos bastidores e posso afirmar que foi algo divino e sobrenatural! Em poucos dias, um grupo de poucas mulheres virou um grupo de dez, que virou um grupo de vinte, que virou um grupo de quarenta e que hoje se transformou em uma verdadeira rede de mulheres conectadas.
Foi curioso que, nos primeiros dias de formação desse grupo, me foi solicitado sugerir alguns temas de interesse das mulheres para podermos trazer palestrantes e pessoas que pudessem dirigir a reflexão. A lista de temas incluía assuntos voltados para oração, emoções, cuidados pessoais, alimentação, criação de filhos, dentre outros. O grupo teve suas atividades iniciadas da melhor forma possível, com uma adesão incrível de mulheres de todas as idades. Estava formado mais um espaço de convivência virtual para exercício de amor e fé!
Em meio a toda excitação de ver esse grupo nascendo, com o coração exultante, me peguei refém de certas vulnerabilidades inerentes ao ambiente virtual mas que, infelizmente, conseguiram fazer um contraponto de emoções dentro em mim. Momentaneamente, um sentimento de excitação recebeu pinceladas de decepção e melancolia. Decepção comigo mesma por não “vigiar” e, melancolia, por perceber que tais vulnerabilidades tendem a se repetir, não só no mundo virtual. Algumas delas serão aqui compartilhadas no intuito de incluir vocês nessa minha jornada quarentenal.
A primeira vulnerabilidade que quero mencionar, costuma evidenciar-se, principalmente, quando participo de videoconferências. Se for uma videoconferência só com mulheres, num grupo acima de três pessoas, essa vulnerabilidade aparece rapidinho: saber me comunicar verbalmente. Pensei que teria mais facilidade com a comunicação no ambiente  virtual, todavia, senti certa dificuldade nesses primeiros encontros. Por falta de treino ou ansiedade acumulada, nem sempre acerto sobre o que falar, em que momento  e de que forma. Tendo a falar muito, atropelar falas, não ler as intenções do outro facilmente e por aí vai. O curioso é que essa mesma vulnerabilidade se transforma em diversão quando a videoconferência é com o grupo de wapp das mulheres da minha família, por exemplo. Como somos todas treinadas à moda italiana de falar ao mesmo tempo e se fazer entender, acaba sendo algo divertido! Desde a prima mais caladinha até a tia rouca, todas nós nos comunicamos de forma alegre e eficaz. Porém para quem vê de fora, a impressão que fica é de que ninguém se entende. Só que não! Por incrível que pareça, a comunicação flui. 
Então, retomando a questão da vulnerabilidade da comunicação no ambiente virtual e, trazendo para a minha realidade, percebo que a vulnerabilidade não está na videoconferência ou no grupo. Certamente que não. Afinal, se eu comparar as videoconferências do grupo de mulheres da igreja, do grupo de mulheres da pós-graduação e do grupo de mulheres da família, perceberei que ambas são videoconferências, ambas possuem mais de três participantes e ambas são só com mulheres. Então, por que considerar a comunicação uma vulnerabilidade? Simplesmente pelo fato de que em cada uma delas me vejo agindo, sentindo  e reagindo de formas diferenciadas. Deve ser assim com todo mundo, porém, trazendo para minha realidade, percebo que se eu não estiver atenta aos eventuais ruídos na comunicação de uma forma mais consciente e menos emocional, perderei a oportunidade de transforma-los em aprendizado e crescimento.
A segunda vulnerabilidade que gostaria de compartilhar com vocês, refere-se ao “timing” em responder mensagens no wapp e retornar ligações. Basta uma demora em responder a alguém e, sem querer, esse atraso pode ganhar conotações as mais diversas para quem está aguardando uma resposta. Eu costumava reclamar desse aspecto com outras pessoas, achando que era desinteresse ou falta de consideração, porém, recentemente, para minha tristeza, me vi fazendo a mesma coisa e não gostei do que senti. Atrasei o retorno de uma ligação e isso gerou certo desconforto que poderia ter sido evitado. Por sorte, a pessoa é bem resolvida e muito querida, portanto, resolvemos o assunto com boas risadas. Mas, gostaria de salientar que a questão do “timing”  no mundo virtual é bem mais complexa do que se imagina. Atrasos em responder uma mensagem de texto, em curtir alguma postagem, em abrir um email, dentre tantas outras tantas ações dessa natureza, podem facilmente ser motivo de indisposições. Precisamos ter cuidado quanto a isso, pensando nos dois lados da história, claro.
A terceira vulnerabilidade que quero mencionar, diz respeito a encadeamento e argumentação de ideias nos grupos de wapp. Em boa parte dos grupos de wapp dos quais participo, é comum as pessoas expressarem suas opiniões com liberdade e despretensiosamente: alguém digita algo, os outros leem, respondem ou não. Quando o tema é irrelevante, como por exemplo, aderir ou não às unhas em gel, as opiniões diferem e fica por isso mesmo. Todavia,  quando é lançada uma discussão importante no grupo como, por exemplo, criação de filhos, políticas públicas, pandemia, dentre outros, sinto dificuldade nesse processo. A impressão que tenho é de que temas são lançados e ficam sempre em aberto. Normalmente, leio a maior parte do que foi digitado e tento criar um certo encadeamento visando a uma conclusão sobre o assunto levantado, porém, em grupos maiores de wapp, nem sempre isso é possível. Aliás, quase nunca. Vale ressaltar que isso acontece nos grupos mistos dos quais participo, ou seja, extrapola o universo feminino. Inicio um processo de encadeamento mental mínimo, lendo o que foi digitado e digitando minha opinião a respeito. Sigo lendo mais um pouco das demais opiniões sobre o tema e, de repente, do nada, surge uma foto bem no meio dos textos  ou uma música, ou ainda, um novo tema é lançado. Socorro! Lá se vai meu raciocínio. Definitivamente, preciso parar com essa mania de ser caçadora de conclusões temáticas em grupos de wapp. Fico até na dúvida se devo classificar esse processo como vulnerabilidade ou, simplesmente, como modus operandi dos grupos de wapp. Todavia, resolvi optar pela primeira opção pelo seguinte motivo: quando você entra na discussão do tema proposto no grupo, posta alguma coisa, mas, seja por preguiça de digitar muito, seja pela quebra no “timing” da discussão, seja pelo motivo que for, sua opinião é lançada de forma incompleta e isso pode ganhar conotações as mais diversas por parte dos interlocutores virtuais. Você já passou por isso? Dá até preguiça, não? Mas há que se ter cuidado.
Por fim, não só no ambiente virtual, minha maior vulnerabilidade: guardar o coração. Um dos temas abordados em um desses grupos de wapp dos quais faço parte, foi: ídolos do coração. Pois bem, Deus me fez perceber que altares se formam nos corações de todas nós, o tempo todo, com certa facilidade. O mundo virtual, com seus grupos de wapp, videoconferências, lives e tudo mais, curiosamente, transforma-se rapidamente numa vitrine de alguns dos altares e dos ídolos que carregamos em nosso coração.
Essa semana, de uma forma toda especial, Deus me mostrou  ídolos que ainda precisam ser quebrados no meu coração e quebrou comigo (e por mim) alguns deles. Oro a Deus para que algo sublime não se perca tão rapidamente por limitações e vulnerabilidades trazidas pelo mundo virtual. Oro para que o mundo virtual seja canal de bênção para todas nós, em especial, nessa quarentena. 


(Texto de 29/04/2020)













 

 


  

  

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