Caras leitoras, tenho tido o
privilégio nos últimos meses de ouvir pessoalmente o pastor e escritor Ed René
Kivitz. Suas palavras são, metaforicamente falando, uma “refeição” consistente
e extremamente prazerosa para nossas mentes e almas.
Eu ja conhecia algumas de suas
idéias, lendo seus livros e assistindo alguns vídeos no You Tube. Porém, devo
reconhecer que ouvi-lo toda semana, “olho no olho”, tem sido uma experiência
única. Suas pregações dominicais têm me feito refletir bastante e me ajudado a
contextualizar melhor as verdades bíblicas.
Nessas próximas semanas, vou
postar um texto de autoria de Ed René que tomei a liberdade de dividir em duas
partes para facilitar a assimilação e reflexão por parte das leitoras. Afinal,
falar de perdão e praticar perdão, são duas coisas bem distintas e que, nesse
texto, vemos com muita clareza esse e outros aspectos relacionados ao tema.
Reflexão - Perdão:
"Alguém já disse que a
família é o lugar dos maiores amores e dos maiores ódios.
Compreensível: quem
mais tem capacidade de amar, mais tem capacidade de ferir. A mão que afaga é
aquela de quem ninguém se protege, e quando agride, causa dores na alma, pois
toca o ponto mais profundo de nossas estruturas afetivas. Isso vale não apenas
para a família nuclear: pais e filhos, mas também para as relações de amizade e
parceria conjugal, por exemplo.
Em mais de vinte anos de
experiência pastoral observei que poucos sofrimentos se comparam às dores
próprias de relacionamentos afetivos feridos pela maldade e crueldade
consciente ou inconsciente. Os males causados pelas pessoas que amamos e
acreditamos que também nos amam são quase insuperáveis. O sofrimento resultado
das fatalidades são acolhidos como vindos de forças cegas, aleatórias e
inevitáveis. Mas a traição do cônjuge, a opressão dos pais, a ingratidão dos
filhos, a rixa entre irmãos, a incompreensão do amigo, nos chegam dos lugares
menos esperados: justamente no ninho onde deveríamos estar protegidos se
esconde a peçonha letal.
Poucas são minhas
conclusões, mas enxerguei pelo menos três aspectos dessa infeliz realidade das
dores do amar e ser amado. Primeiro, percebo que a consciência da mágoa e do
ressentimento nos chega inesperada, de súbito, como que vindo pronta, completa,
de algum lugar. Mas quando chega nos permite enxergar uma longa história de
conflitos, mal entendidos, agressões veladas, palavras e comentários infelizes,
atos e atitudes danosos, que foram minando a alegria da convivência, criando
ambientes de estranhamento e tensões, e promovendo distâncias abissais.
Quando nos percebemos longe
das pessoas que amamos é que nos damos conta dos passos necessários para que a
trilha do ressentimento fosse percorrida: um passo de cada vez, muitos deles
pequenos, que na ocasião foram considerados irrelevantes, mas somados explicam
as feridas profundas dos corações.
Outro aspecto das dores do
amar e ser amado está no paradoxo das razões de cada uma das partes.
Acostumados a pensar em termos da lógica cartesiana: 1 + 1 = 2 e B vem depois
de A e antes de C, nos esquecemos que a vida não se encaixa nos padrões de
causa e efeito do mundo das ciências exatas. Pessoas não são máquinas, emoções
e sentimentos não são números, relacionamentos não são engrenagens. É
ingenuidade acreditar que as relações afetivas podem ser enquadradas na
simplicidade dos conceitos certo e errado, verdade e mentira, preto e branco. A
vida é zona cinzenta, pessoas podem estar certas e erradas ao mesmo tempo, cada
uma com sua razão, e a verdade de um pode ser a mentira do outro. Os sábios ensinam
que “todo ponto de vista é a vista de um ponto”, e considerando que cada pessoa
tem seu ponto, as cores de cada vista serão sempre ou quase sempre diferentes.
Isso me leva ao terceiro aspecto.
Justamente porque as feridas
dos corações resultam de uma longa história, lida de maneiras diferentes pelas
pessoas envolvidas, o exercício de passar a limpo cada passo da jornada me
parece inadequado para a reconciliação. Voltar no tempo para identificar os
momentos cruciais da caminhada, o que é importante para um e para outro, fazer
a análise das razões de cada um, buscar acordo, pedir e outorgar perdão ponto
por ponto não me parece ser a melhor estratégia para a reaproximação dos
corações e cura das almas."