Caras leitoras, alguns
atletas jovens, sob muita pressão e cobranças constantes, podem se
desestabilizar coletivamente e surpreender seus mais fervorosos fãs com
atitudes inusitadas e desempenho inferior ao de costume.
A incapacidade de reagir aos
acontecimentos pode ser um dos sintomas de que a saúde emocional e mental desses
atletas está prejudicada e merece atenção e cuidados especiais.
Foi inspirada no resultado do
último jogo do Brasil contra a seleção da Alemanha que resolvi compartilhar com
vocês um artigo sobre estresse, de autoria do Dr. Vladimir Bernik, muito
interessante.
Não quero justificar o placar
dessa partida de forma simplista, pois sei que vários fatores contribuíram para
o triste espetáculo que assistimos nessa terça-feira, mas, devo confessar que o
estresse é um deles e deve ser considerado por todos: jogadores, equipe técnica
e torcedores.
Nosso corpo é um “termômetro”
de nossas emoções e precisamos saber interpretá-lo corretamente para vivermos
com saúde.
Estresse:
O Assassino Silencioso (Parte I)
Na segunda quinzena de
julho, o mundo surpreendeu-se com a notícia de que a espaçonave russa, a
estação espacial Mir (paz), ficara sem energia por uma ordem errada do
comandante Vladimir Tsibliev. O médico, que cuida dos tripulantes, Igor
Goncharov, explicou, com a maior naturalidade, que o engano fora resultante do
estresse do comandante. Nunca a palavra estresse ganhou tamanha notoriedade em
circunstâncias tão dramáticas.
E o que é estresse? Não há
ainda uma definição para o mesmo nos compêndios de patologia médica. É o
dicionário Aurélio que nos diz que o estresse (em bom português) é "o
conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica,
infecciosa, e outras capazes de perturbar a homeostase" (equilíbrio).
Hoje o termo estresse é amplamente
usado na linguagem atual e nos meios de comunicação. Designa uma agressão, que
leva ao desconforto, ou as conseqüência desta agressão. É uma resposta a uma demanda,
de modo certo ou errado.
O estresse corresponde a uma
relação entre o indivíduo e o meio. Trata-se, portanto, de uma agressão e
reação, de uma interação entre a agressão e a resposta, como propôs o médico
canadense Hans Selye, o criador da moderna conceituação de estresse. O estresse
fisiológico é uma adaptação normal; quando a resposta é patológica, em
indivíduo mal-adaptado, registra-se uma disfunção, que leva a distúrbios
transitórios ou a doenças graves, mas, no mínimo agrava as já existentes e pode
desencadear aquelas para as quais a pessoa é geneticamente predisposta. Aí
torna-se um caso médico por excelência. Nestas circunstâncias desenvolve-se a
famosa síndrome de adaptação, ou a luta-e-fuga (fight or flight), na expressão
do próprio Selye.
Segundo a colocação dada ao
estresse por este autor, num congresso realizado em Munique, em 1988, "o
estresse é o resultado do homem criar uma civilização, que, ele, o próprio
homem não mais consegue suportar". E, em se calculando que o seu aumento
anual chega a 1%, e que hoje atinge cerca de 60% de executivos (veja uma
pesquisa anexa), pode-se chamar de a "doença do século" ou, melhor
dizendo, " "a doença do terceiro milênio". Trata-se de um sério
problema social econômico, pois é uma preocupação de saúde pública, pois ceifa
pessoas ainda jovens, em idade produtiva e geralmente ocupando cargos de
responsabilidade, imobilizando e invalidando as forças produtivas da nação; e é
mais importante ainda no Brasil que, por ser um país ainda jovem, exclui da
atividade pessoas necessárias ao seu desenvolvimento.
Não se sabe exatamente a
incidência no Brasil.
Nos Estados Unidos gastam-se de
50 a 75 bilhões de dólares por ano em despesas diretas e indiretas: isto dá uma
despesa e 750 dólares por ano por pessoa, que trabalha.
A vulnerabilidade
hereditária, mais a preocupação com o futuro, num tempo de incertezas, de um o
país que estabiliza a moeda, mas aumenta o número de desempregados, ao mesmo
tempo em que a qualidade de vida piora, existem os medos do envelhecimento em
más condições, e do empobrecimento, além de alimentação inadequada, pouco lazer,
a falta de apoio familiar adequado e um consumismo exagerado. Todos são fatores
pessoais, familiares, sociais, econômicos e profissionais, que originam a
sensação de estresse e seu conseqüente desencadeamento de doenças, de uma
simples azia à queda imunológica, que pode predispor infeções e até neoplasias.
O Que Provoca o Estresse ?
São os grandes problemas da
nossa vida que, de modo agudo, ou crônico, nos lançam no estresse. Diversos
pesquisadores notaram que a mudança é um dos mais efetivos agentes estressores.
Assim, qualquer mudança em nossas vidas tem o potencial de causar estresse,
tanto as boas quanto as más. O estresse ocorre, então, de forma variável,
dependendo da intensidade do evento de mudança, que pode ir desde a morte do
cônjuge, o índice máximo na escala de estresse, até pequenas infrações de
trânsito ou mesmo a saída para as tão merecidas férias.
Certos eventos em nossas
vidas são tão estressantes, que caracterizam a situação de trauma (lesão ou
dano) psíquico. Recentemente as ciências mentais reconheceram uma nova síndrome,
batizada de Distúrbio de Estresse Pós-traumático,
uma verdadeira doença, pertencente ao estudo da angústia. Tornou-se bem
sistematizada a partir da volta dos "viet-vets", ou veteranos da
guerra do Vietnam. Esta doença ocorre com quadros agudos de angústia grave e
até invalidante, quando a ex-vítima é exposta a situações similares, tornando a
desencadear todos os sintomas ansiosos severos, que conheceram durante a
violência a que estiveram submetidos: são os "flash-backs", que
revivenciam as situações traumatizantes.
Isto não é aplicado apenas a
veteranos de guerra; vejam-se os crescentes índices de violência urbana e as
suas vítimas, que vivem quadros de desespero permanente, quando não atendidos
adequadamente em serviço psiquiátrico de reconhecida competência na área.
Bombas, acidentes automobilísticos ou aéreos, desabamentos, assaltos com
extrema violência, sequestros prolongados, estupros, etc. são causas comuns do
distúrbio de estresse pós-traumático. O tratamento costuma ser demorado, mas
tende a um bom prognóstico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário