Como disse Shakespeare: “O pôr do sol e a música final, assim como o
último pedaço de doce, ordenam mais a memória do que as coisas há muito
passadas”. Pois bem, nossa série de estudos sobre o tema Aprender
a Ser Feliz se encerra aqui, com uma breve reflexão sobre nossa memória
e as previsões que fazemos do futuro.
Estudos comprovam que tentamos
repetir as experiências das quais nos lembramos com prazer e orgulho, e tentamos
evitar a repetição daquelas que nos trazem arrependimento e lembranças de
situações constrangedoras. Afinal, a memória tem peculiaridades que a levam a
representar o passado equivocadamente e, em função disso, imaginar o futuro da
mesma forma.
A freqüência com que
passamos por uma experiência não determina exclusivamente a facilidade com que
vamos nos lembrar dessa experiência no futuro. Aliás, as experiências que não são
freqüentes e, que não são comuns, estão entre as mais memoráveis. Um exemplo
disso é a pessoa lembrar-se com facilidade em que lugar estava no dia 11 de setembro
de 2001, contudo, ter dificuldade de lembrar o nome do restaurante onde jantou
na noite anterior.
Portanto, preste bem
atenção: o fato de que a experiência
menos provável é sempre a lembrança
mais provável pode arruinar nossa capacidade de prever experiências
futuras.
Temos a tendência de nos
lembrarmos dos melhores e dos piores momentos e esquecermos-nos dos momentos
mais prováveis de acontecer. O fetiche que a memória tem pelo desfecho das
situações explica, por exemplo, por que
as mulheres acham que sentiram menos dor ao dar a luz, e por que um casal cuja
relação se tornou amarga acha que, desde o início, já não era feliz. O fato de
sempre avaliarmos o prazer de uma experiência em função de seu final, pode nos
levar a fazer escolhas curiosas.
Isso se deve ao fato de que
nosso cérebro usa fatos e teorias para criar hipóteses sobre eventos passados e
também usa fatos e teorias para criar hipóteses sobre sentimentos passados. E,
quando a teoria está errada, acabamos nos confundindo em nossas lembranças. Você
percebe isso quando superestima a felicidade que vai sentir no dia do seu
aniversário, ou quando subestima como vai se sentir nas manhãs de segunda-feira.
E o pior de tudo é que fazemos essas previsões mundanas e incorretas,
incessantemente.
Enfim, podemos concluir que
a memória que temos das emoções é extremamente influenciada por eventos
incomuns, momentos finais e teorias sobre o deveríamos ter sentido lá atrás,
coisas que comprometem seriamente nossa capacidade de aprender com nossa
própria experiência. Logo, a prática, pelo que parece, nem sempre leva à
perfeição. Afinal, nós somos nossas memórias!
Existe um consenso de que a
capacidade que temos de nos projetar no tempo e experimentar as coisas antes
que elas aconteçam nos permite aprender com nossos erros antes de cometê-los e
avaliar nossas ações, antes de efetuá-las. Contudo, vimos nos estudos dessa
série que nossa capacidade de simular nosso “eus” futuros e as circunstâncias que encontraremos lá na frente,
está longe de ser perfeita. Quando imaginamos as circunstâncias futuras, usamos
detalhes que não vão se realizar e deixamos de fora outros que irão se
realizar. No caso dos sentimentos, ao pensarmos no futuro, encontramos uma
série de dificuldades em esquecer como estamos nos sentindo agora e em
reconhecer o que pensaremos das coisas que podem acontecer mais tarde.
Voltando ao nosso tema,
devemos admitir que não existe uma fórmula simples para encontrar a felicidade,
mas, se nosso grandioso cérebro não nos permite fincar o pé com tanta segurança
no futuro, ele nos permite entender por que tropeçamos...
Nota:
todos os estudos da série Aprender a Ser Feliz foram retirados do livro
intitulado “O que nos Faz Felizes”de Daniel Gilbert.
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